Horizontal ou vertical? Esse foi o último fato midiático de 2017

Juliano Schüler
3 min readDec 28, 2017

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#ficaadica

Se a Anitta não lançar nenhum novo clipe ou fizer algum live bombástico pelas redes sociais até os últimos segundos do dia 31, fechamos o ano de 2017 com o tutorial do William Bonner em pleno JN como o último fato midiático. Que bela tensão entre os displays e o modo como as pessoas utilizam suas extensões [mobiles] pairou no ar naquela noite de 21 de dezembro. Vocês também perceberam?

Quando a maior emissora de TV aberta do país coloca seu âncora-master de jornalismo, no principal horário de noticiário nacional, para orientar o público sobre a utilização do smartphone para gravar na horizontal, é sinal de tensão entre duas forças no ar. Uma é a da TV convencional, como a conhecemos, que há 10 anos ainda tinha como padrão nos lares do Brasil o formato 4:3 e hoje já está massificado o 16:9 [wide], horizontalzaço se comparado com o anterior. A outra é a popularização dos smartphones, que a cada ano ganham à galope uma capacidade maior de definição, de resolução, com melhores redes de dados.

O tutorial do JN poderia ser uma súplica ao público, um pedido de misericórdia de como quem diz “não nos matem ainda com o formato vertical, ainda estamos transmitindo assim”. Pessoalmente eu tenho pavor de quem grava vídeos na vertical. Sendo amadores, ok, dá para relevar. Mas quão longa e a que custo será essa queda de braço entre displays?

Num exercício de como adotamos o horizontal como default, podemos voltar no tempo até os teatros de arena, da Grécia Antiga. Todo o espaço narrativo do palco se dava na horizontal. Os atores entravam em cena e dramatizavam de um canto ao outro para entretenimento da plateia. Passam-se cerca de dois milênios e o teatro “vira” cinema. Coincidentemente a narrativa passa a ser projetada em um grande pano branco com o mesmo formato horizontal. Mais um século à frente e chegamos à uma profusão de telas, TVs, notebooks, tablets, smartphones, smartwatches. E aí a coisa tá nesse estágio complicado porque cada uma tem seu formato e sua forma de uso e/ou consumo.

Muito provavelmente se você está lendo esse texto num note sua tela é horizontal, com rolagem vertical, e terá um considerável espaço nas margens laterais. Agora, se você está me lendo num tablet ou no mobile a orientação já está na vertical, tudo responsivo e bem encaixadinho, e quem sabe até com uma experiência de leitura melhor.

Nessa tensão entre a súplica pelo horizontal e como o público em geral utiliza vídeos no smartphone [muito influenciados pela estética dos stories do Facebook, Instagram, Snapchat, entre outros], vamos observar se o público vai obedecer ou se a emissora terá de se curvar à contribuição da audiência no formato vertical, que é algo quase automático. Faça o teste: peça para algum parente gravar você. Até porque se a ideia é receber vídeos de contribuição dos telespectadores como um “você repórter”, a relevância do conteúdo enviado fala mais alto do que a estética. E se for um flagra ou uma exclusividade então, nem se fala.

Será que um dia teremos uma tela pendurada na parede na vertical? Ou cinemas verticais?

Horizontal ou vertical? “Só o futuro dirá”, como diria Wianey.

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Juliano Schüler

Strategist (Brand)+(Digital) | Creative (Planner)+(Copywriter) | MBA, Strategic Branded Content and Co-creation (PUCRS) | Building Brands with Purpose (NYU).